Arco Lisboa: o que você precisa saber sobre a feira
Se comparada com outras, ela é pequena: são 71 galerias de 17 países. Mas tem um charme que poucas feiras mundo afora têm!
Já é o quarto ano que Lisboa recebe uma das feiras de arte mais importantes do mundo: a super tradicional Arco nasceu em Madri há quase 40 anos e veio para o país vizinho para impulsionar o mercado de arte e acompanhar a onda crescente de visitantes e otimismo. A Arco Lisboa 2019 começou na última quinta (16 de maio) e segue até domingo (19) no Pavilhão da Cordoaria Nacional. Entenda como essa feira se difere de outras espalhadas pelo mundo:
AS CORDAS QUE DÃO CHARME
Estandes desmontáveis, luz branca, ar-condicionado e ambiente fechado é mesmo um cenário comum de feiras, sejam elas de arte, negócios ou carros. No caso da Arco Lisboa, a paisagem é bem diferente: o prédio da Cordoaria Nacional, que fica na ribeira bem em frente ao Tejo, é datado de 1779, e era lá onde se faziam as cordas para os navios (pensando bem, entrelaçar as cordas é também uma arte!). Por isso, o edifício histórico, super longo e térreo monta um ambiente lindo e charmoso, com pé direito alto, teto de madeira, janelas grandes e elementos que remetem à sua função original, como a metragem marcada nas paredes ou postes que escoravam as cordas. Quem passeia por lá está bem servido de história (assim como no resto da cidade) e fica sempre em contato com a luz do dia e a paisagem.
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ALGUÉM DISSE GLAMOUR?
Isso também é importante para os galeristas e funcionários do evento, claro. Ao falarmos no mercado da arte, pensamos em números altíssimos, mas em grande parte das vezes isso não significa glamour. Por isso, quem vive em feiras de arte pelo mundo está sempre comentando sobre o prédio onde a Arco Lisboa ocupa. O mesmo acontece com a SP-Arte, a feira paulistana no belíssimo Pavilhão da Bienal.
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PEQUENA E PRECISA
Nesse ano, a Arco reuniu 71 galerias de 17 países que estão divididas em três setores: Principal, Projectos (apresenta trabalhos de 9 artistas), e Opening (reúne 11 galerias de até 7 anos de vida). A feira é muito pequena se comparada com a Arco Madri, por exemplo que, em março, reuniu 203 galerias de 31 países. Mas isso não faz dela pior. Pelo contrário: tem menos obras e menos informação visual, o que torna menos cansativo e mais fácil para realmente prestar atenção nos trabalhos. Isso também torna o clima bem intimista e menos intimidador! Por ali é fácil encontrar a Ministra da Cultura, Graça Fonseca, tomando uma cerveja ou o Presidente Marcelo Rebelo passeando com amigos (e aconteceu mesmo!).
MERECE DESTAQUE
Alguns destaques são as galerias portuguesas Filomena Soares, Belo-Galester e Kubikgallery, a galeria de Berlim/Istambul Zilberman, a espanhola Elba Benítez e a francesa Pietro Sparta. Vale gastar bastante tempo nos setores Opening e Projectos, que trazem produções bem frescas como a da portuguesa Rita GT, que pintou numa performance o estande repleto de cerâmicas brancas com um spray rosa-choque, e a Galeria Uma Lulik, que trouxe trabalhos de quatro jovens portugueses: Anamary Bilbao, Catarina Mil-Homens, Henrique Pavão e Paulo Lisboa. Quanto às brasileiras, estão apenas duas galerias, a paulistana Vermelho e a carioca Luciana Caravello.
O QUE VALE É A INTENÇÃO?
Nesse ano, o foco da feira era a África, continente que está na moda nos maiores eventos de arte do mundo todo (nessa matéria explico o porquê). Poderia se esperar mais depois de tanto auê em cima do tema. Portugal tem feito um trabalho de enaltecimento dos artistas e do mercado das “ex-colônias” e, por isso, a feira convidou a angolana Paula Nascimento para selecionar e trazer algumas galerias do continente (ela é a única curadora africana que ganhou um Leão de Ouro na Bienal de Veneza). A intenção é boa, mas são apenas 6 galerias entre as 71 participantes que apresentam trabalhos um tanto caricaturais, de uma África tribal, negra e apenas dos países lusófonos. Não são representados países como Egito, Marrocos e Nigéria, por exemplo (algo que seria realmente uma novidade). Mas vale destacar a sul-africana Gallery Momo com trabalhos de Pedro Pires e Stephané E. Conradie, assim como Patrick Bongoy no estande da galeria angolana This is Not a White Cube.
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