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Artista-ilusionista: como Marcius Galan brinca com nossa percepção sobre o espaço

Artista-ilusionista: como Marcius Galan brinca com nossa percepção sobre o espaço

 

Entenda as propostas do artista, que gosta de mostrar vidros inexistentes e seus reflexos

Teto, chão, parede e luz são elementos presentes em qualquer espaço expositivo (ou, melhor, em qualquer espaço). Mas, de maneira quase imperceptível, Marcius Galan (@marciusgalan) consegue transforma-los no grande protagonista das suas obras. O universo do Marcius ainda é permeado por vidros inexistentes e seus reflexos e sombras – e é esse ilusionismo que o leva para espaços de arte de todo o mundo, como a Galeria Francisco Fino, em Lisboa, onde está patente (o vocabulário lusitano para “em cartaz”) a mostra Exercício de divisão. O que ele pretende ao enganar a percepção do seu público?

MÃOS DE CERA

 

Localizada em Marvila, antigo bairro de fábricas de Lisboa cujos galpões vêm sendo tomados por iniciativas artísticas e criativas, a Galeria Francisco Fino foi totalmente transformada por Galan: quem entra no antigo armazém de vinhos e azeites vê que o cubo branco da galeria está dividido em dois. Do lado esquerdo, as paredes brancas do espaço são tomadas por diversas molduras e, do lado direito, todos esses elementos se repetem num ambiente mais escuro, esverdeado, como se, no meio da galeria, estivesse um vidro. Na verdade, a brincadeira com nossa percepção é feita com mãos de cera que pintam todo o ambiente, além de um jogo de luz. Essa construção do espaço, mesmo que imaginária, transforma totalmente a relação do visitante com o arquitetura do lugar – e sem nenhuma tecnologia especial!

 

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MÃO NA MASSA

 

Para fazer a obra, o artista que vive em São Paulo transforma a galeria no seu ateliê: não dá para saber como ficaria este site-specific antes do seu processo de montagem, nem se a instalação iria mesmo funcionar. Cada um desses objetos cotidianos da obra de Galan intervém no espaço de maneira super meticulosa: ele desenha linhas no chão, tira pedaços de parede, coloca sombras onde não existem objetos. O seu processo de trabalho, então, é tão importante como seu resultado. E a galeria que recebe a mostra deve ser no mínimo corajosa para topar receber essas intervenções em suas estruturas.

 

Leia mais: Estamos apenas nos referindo à cor quando usamos o termo “cubo branco”?

 

LINHAS TRIDIMENSIONAIS

 

Torna a instalação ainda mais geniosa se perceber que toda a obra de Galan é construída a partir de linhas. Elas são desenhos trazidos para o tridimensional, ou seja, as  suas “ferramentas” nada mais são do que objetos em formato de linhas espalhadas pelo espaço. Marcius nos convida a passear por esse seu mundo, não só tendo a experiência visual e a brincadeira com nossa percepção, mas também propondo outra experiência: qual relação que o nosso corpo cria com a arquitetura do lugar, já que muitas das suas estruturas não estão realmente ali, mas são pura ilusão?

 

SE ESTÁ NUMA GALERIA, A OBRA PODE SER VENDIDA?

 

Apesar de ser feita especialmente para a galeria lisboeta, o site-specific está à venda. Quem comprar não leva exatamente a mesma instalação embaixo do braço, claro, mas ganha um novo Exercício de divisão de acordo com a sala da sua casa, ou o ambiente onde aquela obra vai ocupar. Para facilitar o comércio de suas obras, o artista também produz fotografias e objetos menores que seguem o mesmo pensamento sobre reflexo, dualidade e tridimensionalidade.

 

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