Title Image

Bansky no leilão de arte: a obra triturada perde ou ganha valor?

Bansky no leilão de arte: a obra triturada perde ou ganha valor?

 

O arremate que atingiu mais de 5 milhões de reais veio com uma surpresa: a moldura da obra era, na verdade, um triturador de papel

No pregão da Sotheby’s não rola coisa pouca. Os valores são altíssimos no leilão mais importante do mundo, que é um dos maiores responsáveis por precificar as obras celebradas e, consequentemente, ser o balizador para todo o mercado de arte. Na última sexta (5), o arremate da obra Girl with Balloon, do grafiteiro Banksy (@banksy), atingiu a casa do 5 milhões de reais. Mas a moldura da obra – para surpresa de todos – era um triturador de papel. Com a batida do martelo, o trabalho da menina que segura os balões foi parcialmente destruído. Você poderia pensar que a reação da equipe da casa de leilões, do público e, mais importante, do comprador, seja de total repúdio. Pense novamente: esta pode vir a ser a obra mais polêmica e famosa do Banksy, o que a torna, novamente, um trunfo para o próprio mercado de arte.

GRAFITE PODE EXISTIR FORA DAS RUAS?

 

O grafite é, claramente, uma linguagem urbana, ligada ao contexto da cidade e ao local onde é realizado. Ao ser incorporada pelo mercado, o grafite perde a conotação efêmera e uma das suas principais características: o fato de estar ligado ao espaço público e mudar, mesmo que muito sutilmente, o dia da pessoa que passou por ele. Ao se tornar um objeto, a obra passa a comunicar de maneira diferente. Isso, porém, não quer dizer que seja melhor ou pior do que o grafite das ruas – ela é uma obra totalmente diferente.

 

Leia mais: Bienal de São Paulo: 4 passos para entender as escolhas do curador

 

GRAFITE PODE SER VENDIDO?

 

Todo artista merece sobreviver da sua obra. Por isso, um grafiteiro ser representado por uma galeria, vender seus desenhos em outros suportes que não a parede ou chegar até a ser uma celebridade – como é o caso dos brasileiros OSGEMEOS (@osgemeos) ou do português Vhils (@vhils) – não é um boicote à linguagem. Galerias como a paulistana Choque Cultural sabem muito bem transitar entre a produção urbana e os trabalhos dos mesmos artistas em outros suportes.

QUEM É ELE MESMO?

 

Não sabemos. O(s) responsável(is) pelas produções em estêncil que vivem aparecendo em vários lugares do mundo – principalmente na Inglaterra – pode ser uma pessoa ou coletivo que assina Banksy. A imprensa britânica diz que ele se chama Robin Gunningham e é morador de Bristol. O que se sabe é que ele é um provocador dos bons. Ele faz desenhos como dois policiais ingleses se beijando e uma criança chorando por falta de likes nas redes sociais. Ele tem um site bem completo com suas produções mais recentes e as individuais ao redor do mundo.

 

Leia mais: Existe performance sem performer?

 

O QUE O BANKSY QUIS DIZER COM ESTE EPISÓDIO?

 

O fato de Banksy não revelar sua identidade torna possível brincar com o mercado de arte da maneira que ele faz. O episódio da Sotheby’s integra o imaginário que se constrói sobre o artista. Nomes também valiosíssimos como o americano Jeff Koons (@jeffkoons) e o britânico Damien Hirst (@damienhirst) também ironizam o mercado descaradamente e ficam cada vez mais ricos com isso. Banksy provoca o leilão e todos aqueles que participam desse universo porque sabe que sua polêmica se reverte em alimento para o seu próprio fazer artístico.

 

AFINAL, A OBRA PASSA A SER MAIS OU MENOS VALIOSA?

 

A obra triturada continua a ser um trabalho criado e assinado pelo artista. O “acidente” foi muito bem organizado. Os cortes em cima do papel não foram feitos por outra pessoa com a intenção de destruir, mas planejados pelo próprio artista – a obra continua, então, sendo original. Além disso, ela é uma obra única. Existem diversas edições de Girl with Balloon por aí, mas apenas uma foi protagonista de tamanha polêmica. Aposto que ela passará a custar bem mais do que os 5 milhões de reais.

 

Assista: Falando sobre imaterialidade

Leia Também

Não tem nenhum comentário

Poste um comentário