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Direitos dos indígenas no Brasil e a catástrofe em Brumadinho: o que artistas como Claudia Andujar têm a dizer sobre isso

Direitos dos indígenas no Brasil e a catástrofe em Brumadinho: o que artistas como Claudia Andujar têm a dizer sobre isso

 

O IMS-SP homenageia a obra engajada da fotógrafa brasileira pela luta Yanomami; já o português Vhils, ganha exposição em Brasília sobre indígenas deslocados

De um lado, povos nativos do Brasil já sofrem com a medida provisória do novo governo de colocar a Funai, maior organização frente aos direitos indígenas, sob a responsabilidade do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Para piorar, tem ainda a incrível contradição de que a delimitação de suas terras fica agora para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que, claro, vai lutar pelos seus interesses (vulgo exploração da terra) e não pelo direito dos povos nativos de a ocupar. De outro lado, a catástrofe de Brumadinho, no último dia 25 de janeiro, cujo rompimento da barragem da Vale já soma 65 mortos e 279 desaparecidos. Desastre devido à exploração indevida da terra, que veio a ocorrer na mesma cidade onde está o Instituto Inhotim, maior museu a céu aberto do mundo. Não é de hoje que vários artistas vêm alertando sobre a velocidade de exploração (que só aumenta), a falta de respeito com os povos nativos e a urgência da riqueza a qualquer custo por parte dos dirigentes do governo:

ÍNDIOS? QUE ÍNDIOS?

 

Em 2015, Claudia Andujar ganhou um pavilhão inteiramente dedicado à sua obra no Instituto Inhotim: são mais de 400 fotografias feitas entre 1970 e 2010 pela suíça radicada no Brasil, que dedicou literalmente toda sua carreira (e vida!) para aproximar o cotidiano dos Yanomami de outros brasileiros, que costumam deixar de lado a sua presença em território nacional. (Por pouco, este pavilhão também não foi coberto de lama, como grande parte da cidade de Brumadinho). Seu trabalho louvável vem sendo enaltecido no mundo todo e, atualmente, ganha destaque na exposição Claudia Andujar – a luta Yanomami, em cartaz no Instituto Moreira Salles, até 7 de abril. Estão no prédio da Avenida Paulista, em São Paulo, centenas de cliques que vão do dia-a-dia da tribo e registros de rituais a imagens de queimadas e séries como Marcados, retratos que ela fez nos anos 1980 para os cadastros de saúde numa tentativa de proteger os índios da dizimação por conta de doenças até então desconhecidas por eles.

 

O CÉU VAI CAIR

 

Claudia começou a fotografar os Yanomami em 1971, e com eles conviveu longas temporadas até 2000, sempre lutando pela demarcação das terras indígenas no país e atuando como uma peça chave para diálogo com os Yanomami. Na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) na qual participou em 2014, já aos 83 anos, ela profetizou: “O ser humano tem que respeitar a vida. Se não a respeitarmos o céu vai cair e o mundo vai acabar. Seres desaparecerão no submundo”. A delimitação de terras e a sua entrega pelo Estado às comunidades indígenas é garantida pela Constituição – cerca de 14% do território brasileiro está destinado para este fim. Agora, com as novas medidas de Bolsonaro, a porcentagem só vai cair.

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DE REPENTE, SEM TERRA

 

Na Caixa Cultural Brasília, um dos artistas portugueses de maior projeção internacional, o Vhils (@vhils), apresenta a mostra Incisão, em cartaz até 3 de março: entre os 54 rostos feitos em portas de madeira com raspagem e subtração – técnicas que ele usa para estampar rostos de minorias em obras de arte majoritariamente urbanas – estão alguns semblantes de indígenas da aldeia Araçaí, a 50 quilômetros de Curitiba. As 90 pessoas que formam a comunidade foram obrigadas a deixar suas terras, no ano 2000, por conta de um programa governamental. Vhils fez uma residência artística no local e produziu a série que remete às dificuldades de integração dos índios no Brasil, que são obrigados a viverem junto à sociedade sem qualquer suporte.

 

NÃO TINHA TETO, NÃO TINHA NADA

 

Depois do rompimento da barragem em Mariana, em 2014, o artista sul-africano Haroon Gunn-Salie (@gunn_salie) transportou uma casa parcialmente submersa para o Galpão Videobrasil, em São Paulo. No lugar de fazer fotos, a exemplo de Christian Cravo (@christiancravo), que produziu a série Mariana com registros de lugares e objetos, Gunn-Salie preferiu chocar os visitantes da exposição com os próprios escombros da tragédia. Eles foram dados pela moradora do casebre, que fazia questão que o mundo visse a destruição de perto.

RAÍZES BRASILEIRAS

 

Cildo Meireles (@cildo_meireles) e Adriana Varejão (@adrianavarejao) são outros bons exemplos de artistas preocupados em conectar essas questões contemporâneas à nossa história. Afinal, a arte serve também para nos lembrar das nossas raízes e do passado: muitas pessoas (nossos dirigentes principalmente!) parecem, hoje, sofrer de perda de memória. Em Zero Cruzeiro, por exemplo, Cildo Meireles modificou notas de dinheiro, nos anos 1970, colocando a imagem de um índio numa nota que valia zero cruzeiros. Adriana Varejão vive trazendo imagens de indígenas para suas pinturas, ao lado de entranhas sangrentas. É um soco no estômago: não precisa de muito para entender o que esses artistas estão querendo berrar.

 

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