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Quem são Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, a dupla que representa o Brasil na Bienal de Veneza

Quem são Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, a dupla que representa o Brasil na Bienal de Veneza

 

Do frevo e passinho brasileiros ao schlager alemão: os artistas descobrem nichos musicais e fazem imersões nesses cenários

Ela, brasiliense de 38 anos e responsável por trabalhos documentais no Recife, ligados a classes populares do Nordeste. Ele, um alemão de origem irlandesa de 43 anos, que sempre teve um pé nas belas artes produzindo trabalhos de colagem, desenho e pintura. Bárbara Wagner e Benjamin de Burca se conheceram em 2010 e não demorou muito para que juntassem suas trouxas, casassem e descasassem, e virassem um dos coletivos de arte mais requisitados do Brasil. Em oito anos, eles já passaram pelos maiores festivais de cinema e arte do mundo, como o Skulptur Projekte Münster e a Bienal de São Paulo de 2016. Agora, a dupla acaba de ser anunciada como a representante do Brasil na próxima Bienal de Veneza (a mais importante do mundo!), que acontece entre maio e novembro de 2019:

NICHOS PRA LÁ DE INTERESSANTES

 

Ambos gostam muito de música e seus trabalhos são totalmente baseados nelas: caboclinho, maracatu, passinho, gospel, frevo, brega. Mas, mais do que a batida ou a dança, esses estilos indicam muitas coisas sobre um grupo e são essas questões sociais que encantam Bárbara (@barbarawagner_) e Benjamin (@benjamindeburca). Como a música pode indicar comportamento, valores, relação com o consumo e com a tecnologia? A dupla foi a escolha de Gabriel Pérez-Barreiro, curador da mais recente Bienal de São Paulo que acabou no começo de dezembro, e é também responsável pelo pavilhão de Brasil em Veneza, em 2019. O título dessa Bienal, Que você viva em tempos interessantes, foi escolhido pelo curador-geral americano Ralph Rugoff. Apesar de as representações nacionais não terem de seguir o tema principal à risca, no caso da dupla, será um bom encaixe. Bárbara e Benjamin encontram nichos da música, fazem verdadeiras imersões em seus cenários, conhecem a fundo os personagens ligados a eles e produzem audiovisuais hiper-atraentes de não mais de 20 minutos. Não tem quem não ache suas obras um bom exemplo dos “tempos interessantes” que vivemos!

 

Entenda: O que é uma bienal?

 

VIVENDO O DIA-A-DIA DOS PERSONAGENS

 

“Queremos mostrar quem são os jovens artistas dos centros urbanos que produzem músicas, clipes e movimentos que formam mercados gigantescos e também fazem parte da cultura popular brasileira”, explicou Bárbara Wagner, em entrevista em 2018 para a matéria que escrevi para a revista Carbono Uomo. Em Terremoto Santo, por exemplo, vídeo sobre a música gospel na cidade pernambucana de Palmares, eles passaram dias acompanhando Anacleia, dona de um programa de rádio gospel que faz vídeos religiosos para o Youtube. Em Faz que Vai, eles pesquisaram o frevo contemporâneo (é impossível não se balançar enquanto se assiste ao filme). Nesse caso, eles conheceram, filmaram e tomaram várias cervejas com o Ryan, que também é uma drag queen e dança balé misturado com frevo, funk e swingera. Na 32a Bienal de São Paulo, eles bombaram (mesmo) com Estás vendo coisas, ao mostrar a indústria da música brega no Recife a partir de dois protagonistas reais da boate Planeta Show: Dayana Paixão, bombeira durante o dia e cantora de brega durante a noite, e MC Porck, cabelereiro e cantor.

A ESTÉTICA É PRIMORDIAL

 

Quando foram para o Skulptur Projekte Münster em 2017, exposição incrível que acontece a cada dez anos e toma cada canto da cidade de Münster, na Alemanha (de parque e hotel, a loja de tatuagem e banheiro público), a dupla escolheu uma balada de pole dance para apresentar o trabalho Bye Bye Deutschland. Com luzes vermelhas, sofás confortáveis e palcos de dança, a boate chamada Elephant Lounge mudou sua programação para apresentar o vídeo sobre o Schlager, tipo de música kitsch alemã. Mas não é só a pesquisa e o conteúdo que fazem ser deliciosas as obras da dupla: a estética é também primordial. As cenas são sempre supercoloridas e atraentes, muitas vezes pitorescas e artificiais, mas sempre muito bem humoradas. Elas chamam a atenção até de quem não fala alemão ou nunca ouviu sequer uma música brega – e dá muita vontade de assistir tudo de novo!

 

Assista: Arte pode estar em qualquer lugar?

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