Vik Muniz: apropriação e a fotografia são a chave do seu sucesso
Os registros dos trabalhos tem mais valor do que suas instalações originais – dá pra entender?
A apropriação é um termo comum na arte contemporânea desde o mictório de Duchamp e já havia sido uma prática em obras surrealistas e colagens cubistas. Ela significa o uso de objetos que não fazem parte do vocabulário tradicional da arte – como recortes de jornais e revistas, pedras, comida e lixo, no caso de Vik Muniz (@vikmuniz) – ou a ressignificação de obras já existentes: quando um artista pega “emprestada” a obra de outro para transforma-la numa criação com novo propósito.
Quem não lembra de apropriações por Vik de pinturas famosas, como a medusa que, em suas mãos, foi feita de espaguete, a Marilyn Monroe de pedras de diamante e a imagem da Mona Lisa criada a partir de geleia e pasta de amendoim? Seu pulo do gato foi ressignificar imagens que já integram a memória visual de muita gente.
FOTOGRAFIA É UM DISSEMINADOR
Mais do que isso, porém, a sua grande sacada é o uso da fotografia. O público não tem acesso às obras originais feitas com tais materiais inusitados – ele apenas vê fotos das instalações criadas por Vik em seu estúdio. Mais do que registros do processo de trabalho, as fotografias também são, por si só, obras de arte. E são elas que circulam facilmente por museus como o Dirimart Dolapdere de Istambul, que recebeu uma individual do artista até o dia 11 de março ou o Belvedere Museum, em Viena, que apresenta uma mostra do artista até junho.
Veja, por exemplo, o documentário Lixo Extraordinário, em que o artista e sua equipe se aproximaram de catadores de lixo reciclável do Jardim Gramacho, aterro sanitário em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro (caso ainda não tenha visto, assista ao filme nesse link). O trabalho de apropriação acontece ao transformar o material de refugo em grandes instalações como aquela inspirada na pintura A Morte de Marat, do francês Jacques-Louis David. Essa instalação, por sua vez, é fotografada de cima: ele usa o produto, ou seja, a fotografia, como um disseminador. Ele pode produzir e comercializar quantas edições ele bem entender.
ONDE VER VIK EM SÃO PAULO
Na paulistana Galeria Nara Roesler, que o representa, Vik brincou com esta mesma ideia de “realidade versus reprodução”, durante a exposição Handmade, que aconteceu em 2016. Em um mesmo quadro, ele colocava recortes de revista e fotos de recortes de revista, jogando sempre com o efeito visual. Até o final de maio, a galeria apresenta a mostra Roesler Hotel #28:screenspace, em que Vik é também um dos curadores. Ele também tem uma série permanente no recém-inaugurado Farol Santander: em Vista 360, usou o lixo da obra do próprio prédio para construir instalações com a vista da cidade.
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